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Arthur Guerra

Cota por gênero ou laranja

Arthur Guerra

Advogado Especialista em Direito Público Municipal e Direito Eleitoral

Doutor em Direito Público

Mestre em Direito Constitucional

Professor Universitário



Conclusões precipitadas jogam na "vala comum" os casos de mulheres que recebem poucos votos nas Eleições.

Após divergência de votos, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) novamente adiou o julgamento para analisar a cassação de vereadores de duas coligações que usaram figuras fictícias para preencher a cota por gênero destinada a mulheres, durante a campanha municipal de 2016 na cidade de Valença do Piauí (PI).

Considerando o crescente número dessas ocorrências, o acontecimento pode gerar um “efeito dominó” e comprometer o processo eleitoral brasileiro.

O financiamento das campanhas tem sido radicalmente modificado, pois o fundo partidário e os outros mecanismos de financiamento estatais geram possibilidades de o partido político distribuir os recursos conforme sua vontade, conveniência e oportunidade. De acordo com decisão recente da Justiça Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal, um percentual desse recurso deve ser destinado, obrigatoriamente, a candidaturas femininas.

Recentemente, ocorreram denúncias envolvendo o uso de candidaturas de fachada, reveladas por um estudo das professoras Malu Gatto, da University College London, e Kristin Wyllie, da James Madison University, apresentando a gravidade da situação: 35% das candidatas para a Câmara dos Deputados não chegaram a alcançar 320 votos. Quando se fala em distribuir 30% do valor para as candidaturas femininas, o que tem acontecido é que elas são convidadas, sendo importante observar que o valor direcionado tem quer ser empregado efetivamente para elas.

As últimas denúncias levantaram a dúvida se as mulheres estariam recebendo dinheiro que seria devolvido ao partido, apesar das acusações não serem comprovadas e haver uma marcação muito intensa da Justiça Eleitoral. Claro que a investigação devida é importante. Cabe lembrar um fenômeno muito comum nas eleições. Na prática, em momento de “empolgação” por um convite, muitas acabam aceitando ser candidatas; mas, por questões diversas, “desistem” de buscar votos e acabam tendo resultados bem abaixo do esperado (quando não, “zerados”).

Historicamente, observa-se uma menor participação feminina na política que, gradativamente, está sendo revertida, mas poucas ainda participam tão intensamente das campanhas eleitorais. No século passado, as mulheres representavam 35% do eleitorado. O estudo apontou também que, em 20 anos de existência da lei de cotas, pouco se avançou na representatividade feminina na Câmara, passando de 5,6% para 15%. Atualmente, está em análise na Comissão de Constituição e Justiça um projeto para acabar com a cota de candidaturas nas eleições com base em gênero. O autor da proposta justifica o fato de os partidos as convidarem a participarem da política apenas para cumprirem o percentual mínimo exigido de 30% de candidaturas femininas.

É relevante saber que a importância feminina na política se dá não somente com aplausos, mas também com recursos. As denúncias precisam ser investigadas e, consequentemente, penalizadas, descoberto o uso das cotas em benefício do partido, certamente a lei mudará. Vale lembrar que laranja pode ser doce; porém, também, bem azeda.

 

Artigo originalmente publicado no Jornal Hoje em Dia, em 10.06.2109. Disponível em https://www.hojeemdia.com.br/opini%C3%A3o/blogs/opini%C3%A3o-1.363900/cota-por-g%C3%AAnero-ou-laranja-1.719609

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